Meu primeiro humidor

Uma das coisas que aprendi no meu novo (mas não tão novo Smile ) hobby foi que é necessário experimentar uma certa variedade de tabacos para cachimbo e charutos para que você tenha uma coleção de impressões.

A medida  que você experimenta uma coisa boa, quer ter a sensação novamente. Se a experiência não foi daquelas, certamente não quer de novo.

O registro destas impressões é algo também importante, afinal aprendi há um bom tempo que a memória é algo volátil, portanto registrar as impressões é importante, mas isso vou deixar de tema para outro post.

Hoje quero falar sobre como eu montei meu próprio humidor para guardar os charutos que vou experimentando e aqueles que tenho intenção de maturar.

Minha primeira intenção foi comprar um humidor, afinal me parecia algo muito técnico. Eu já estava convencido da necessidade dele.

Um charuto é um item que contém em sua composição matéria natural, proveniente das folhas de tabaco que é formado. Em certos termos é como se fosse um elemento vivo. A medida que o tempo passa, ele sofre transformações e amadurece, envelhece e morre.

Charutos e tabacos para cachimbo são elementos higroscópicos, quer dizer em ambientes secos vão se tornar secos ou em ambientes úmidos vão absorver a humidade existente e farão isso até que equalizem a condição do ambiente que habitam.

Um charuto úmido não queima de maneira regular. Isto fará com que seja mais difícil mantê-lo aceso. A fumaça se tornará mais densa e a sensação final pode ser de amargor e aromas menos proeminentes. Por outro lado um charuto muito seco vai ter uma queima mais intensa. Sem a adequada porção de umidade a temperatura ocasionada pela combustão rápida vai produzir uma fumaça muito quente que vai agredir o paladar. Um charuto seco sofre a ação da evaporação dos óleos naturais do tabaco fazendo com que o aroma e sabor em geral seja também perdido.

Armazenar dentro das condições ideias, ou próxima delas, faz com que você maximize suas experiências

Muito do tempo de vida do charuto é determinado pelo conjunto de condições em que é armazenado. Umidade, temperatura, manuseio e luminosidade são os elementos que mais afetam o tempo de vida de um charuto e em última análise vão determinar se haverá ou não uma morte digna.

A luz irá “alvejar” a capa de seu charuto fazendo com que ela fique menos elástica e mais suscetível à se romper. Luz ultravioleta também modifica a composição molecular da capa sendo que você nunca deve expor suas preciosidades sob luz violeta. Incidência direta de luz (em especial a solar ou mesmo artificiais mais quentes) irá subir consideravelmente a temperatura em seu humidor.

Aliás, temperatura é importante por duas razões: afeta a umidade relativa e pode também ativar besouros de tabaco que possam estar alojados nas folhas que compõe seu charuto, fazendo com que comecem a devorar seus exemplares.

A umidade relativa (e ela é relativa a temperatura) que melhor se adapta a seus charutos deve estar entre 60% e 80%, sendo que em muitas fontes que pesquisei dizem que o ideal mesmo é algo entre 72% e 75%. Como vê é o meio termo da escala primeira.

A forma de se manter um relativo controle sobre estes aspectos em seus charutos (ou tabaco para cachimbo) é mantê-los em um ambiente controlado. Este se chama humidor.

O principal propósito do humidor é manter a capacidade de “fumada” dos seus charutos em seu pico máximo de eficiência, sendo que o elemento mais crucial é a capacidade de manter um ambiente com humidade relativa dentro dos limites adequados de maneira constante.

Então, seu humidor é seu principal elemento de armazenamento e ele pode ser simples como recipiente de plástico com tampo hermético ou até mesmo um armário com temperatura e humidades controladas por dispositvos especiais.

Você pode procurar humidores nos principais sites do ramo ou mesmo em sua tabacaria preferida e vai encontrar em diversos modelos e tamanhos, com higrômetros analógicos ou digitais nos mais diversos preços.

Em minhas pesquisas, vi que podem ser de materiais diversos, o que sugeria que podiam caber em qualquer orçamento.

Em muitos aspectos sou mais inclinado a tradições, então nada mais natural do que ter um humidor de madeira.

Resolvi então criar meu próprio humidor de madeira, muito porque em viagem recente havia adquirido uma caixa de 25 exemplares de Romeo y Julieta Mille Fleur, então tinha a motivação certa.

Depois de muito ler entendi que apenas precisa de uma caixa de madeira (em um mundo ideal de puro cedro) com as dimensões adequadas para a quantidade de charutos que queria guardar. Em meu caso escolhi uma para 30-40 exemplares (que depois percebi que poderia armazenar até 50 Coronas).

Perto da minha casa há uma loja de material de bricolagem que tinha certeza que poderia encontrar o que queria. Escolhi esta caixa de dimensões (cm) 27x21x9 (na loja tem o própósito de servir como um estojo de costura, mas dei outro fim a ela). Ela é composta de MDF e vem com dobradiças embutidas.

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Na mesma loja recebi orientação de como tratar a caixa e como dar um tom de madeira “maciça” para minha caixa. Que nada mais era do que pintá-la com betume (comprei o tom de mogno da Acrilex – o Betume Colors Mahogany). Também adquiri o Verniz brilhante para dar acabamento a minha peça.

O processo foi muito simples, apenas apliquei o betume em todas as faces externas, sempre espalhando bem, a partir de uma única direção e após a secagem (algo como duas horas) aplicava outra demão para chegar ao tom desejado.

Durante minhas pesquisas acabei lendo sobre a importância do cedro como repelente natural dos insetos que podem danificar os charutos. Além do que o aroma de cedro é muito bem-vindo e daria um aspecto mais profissional para meu humidor.

Acabei encontrando um fornecedor de lâminas de cedro que adquiri por menos de duas dezenas de reais.

Medi internamente a área de meu humidor, cortei a lâmina com a ajuda de estilete e apliquei na caixa com uma fina camada de cola branca.

Para finalizar, coloquei pequenos pés de borracha e minha caixa estava pronta.

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Agora era hora de “inicializar” meu humidor. Para isso adquiri um sachê de Boveda de 75.5% de umidade relativa e umedeci de leve todas as paredes internas da caixa, bem como a folha extra que cortei como separador. Abri o envelope do Boveda, coloquei ele dentro da caixa e mantive fechada, longe da luz por 72hs.

Para adornar meu novo humidor, comprei um higrômetro analógico, calibrei ele com o sache calibrador por 72hs, acertei o mostrador e fixei na tampa interna da caixa com uma fita velcro e fitas dupla face (veja na foto como ficou).

Depois de tudo isso carreguei meu novo humidor com meus Romeu y Julieta Mille Fleur, um Arturo Fuente Robusto e cinco Puritos Romeo y Julieta.

Além do excelente tempo que investi, aprendi que tenho um certo jeito para trabalhos artísticos simples e consegui meu intento de manter meus charutos conservados.

Veja meu trabalho final, agora com um Monte Pascoal, um Dona Flor Mata Fina e os Mille Fleur, outros brasileiros e habanos.

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Toda a diversão por muito menos daquilo que pagaria em um site ou uma tabacaria (eu calculei que consegui por menos de R$90 -  caixa + higrômetro + embelezadores).

Para saber mais sobre a importância de humidores e a forma correta de armazenamento, veja:

Storing Your Cigar em inglês

Boveda – Sachês Umidificadores para Charutos

Conservando seus Charutos

Boas Fumadas!

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